terça-feira, 9 de setembro de 2008

Até o próprio Barnabé

O nosso amado Senhor é maravilhoso! É uma bênção inefável estarmos em sua presença e podermos servi-lo.

Passei vários dias impressionado com alguns versículos da carta aos gálatas. Refiro-me a Gálatas 2:11-14. Gostaria de compartilhar esta palavra com vocês.

Na passagem citada acima, Paulo diz ter repreendido Cefas. A razão para tal repreensão é também apresentada: Pedro (Cefas) e os demais judeus que estavam com ele haviam dissimulado. A dissimulação, justamente por ser um tipo de hipocrisia e fingimento é, sem dúvida, algo vergonhoso. Pedro, que, ao contrário de Paulo, esteve com o Senhor quando este esteve na Terra como homem, agiu de forma dissimulada. A dissimulação em questão consistiu no fato de que Pedro comia com gentios, mas, ao chegarem alguns irmãos influenciados pelo judaísmo, Pedro teve vergonha de estar à mesa com não-judeus e, por isso mesmo, afastou-se deles.

Meu encargo aqui, contudo, não é dar ênfase ao erro de Pedro. No versículo 13 é dito algo que mostra a gravidade da situação: “a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles”. Essa passagem me deixou intrigado durante algum tempo. A expressão “a ponto de” é significativa. Ela é usada como uma tentativa de “quantificar” um determinado acontecimento. Dizemos, por exemplo, que “João correu a ponto de se cansar”, ou, ainda, que “Jorge estudou a ponto de passar”. Enfim, a expressão “a ponto de” dá ao leitor ou ao ouvinte uma idéia de “medida”. Ao dizer que a dissimulação chegou ao ponto de “o próprio Barnabé” ter-se “deixado levar”, o apóstolo Paulo queria dar uma idéia da gravidade do problema.

Paulo parece ter ficado impressionado com o fato de “o próprio Barnabé” também se ter “deixado levar” pelo erro dos outros. Paulo não disse que “o próprio Pedro” dissimulou, mas que “o próprio Barnabé” dissimulou. Pedro ter errado é uma coisa, mas Barnabé ter cometido o mesmo erro, é outra bem diferente. Certa vez alguém me disse que um determinado problema matemático estava tão difícil que o próprio professor não pôde resolver. Pois é, no caso de Gálatas 2, o que impressionou foi o fato de que “o próprio Barnabé” dissimulou. É como se Paulo dissesse: “Pedro dissimulou, mas é um absurdo que Barnabé também tenha dissimulado!”.

Bom, mas porque será que Paulo considerou o erro de Barnabé o “termômetro” da situação, a “medida” da gravidade do problema? Encontrei a resposta em At 13:2. Vemos nesta passagem que Barnabé e Saulo (Paulo) foram separados pelo Espírito Santo para a Obra, na mesma ocasião, dentre os profetas e mestres da igreja em Antioquia. Eles tinham o mesmo encargo e a mesma visão espiritual. Eles serviram juntos nas primeiras viagens missionárias. Eles foram os pioneiros no estabelecimento das igrejas gentias. Eles sabiam que os gentios podem ser cristãos sem precisar ser judeus. Eles, enfim, estão juntos em Atos 13, 14 e 15. Além disso, foi Barnabé quem apresentou Paulo aos apóstolos quando os irmãos duvidavam de sua conversão (At 9:26, 27). Paulo, portanto, sabia que ele próprio e Barnabé haviam recebido a mesma visão espiritual, que Barnabé estava claro de que no Corpo de Cristo não há judeu nem não-judeu e, ainda, que não estamos mais debaixo da lei, como no Antigo Testamento. Paulo e Barnabé pregaram este evangelho entre os gentios em obediência a uma revelação. Os nomes são dois, a saber, Barnabé e Paulo, mas “a obra” é uma só. Em Antioquia o Espírito Santo foi claro: “separai-me agora a Barnabé e Saulo (que depois passou a chamar-se Paulo) para a obra que os tenho chamado”. Agora, porém, é lamentável que “o próprio Barnabé” tenha se “deixado levar” pela dissimulação dos judeus. Era até “compreensível” que Pedro tendesse para o “lado judeu”1, pois a sua esfera de atuação limitava-se aos crentes judeus, conforme Gl 2:9, mas Barnabé, que foi chamado, conforme a mesma passagem, “para os gentios”, ser ludibriado pelos judaizantes, isso é que é difícil de se aceitar. Deve-se ainda sublinhar que Pedro, em At 10, recusa-se a atender a voz do Senhor que lhe dizia para matar e comer animais que os judeus consideram imundos. Visão essa onde Deus queria lhe mostrar, justamente, que o evangelho deveria ser pregado também aos gentios. Tudo indica que Pedro foi a primeira pessoa que o Senhor queria usar para liderar a obra entre os gentios. As dificuldades “religiosas” de Pedro parecem ter sido o motivo pelo qual o Espírito Santo separou Barnabé e Saulo (não parece ser significativo que o v. 2 de At 13 diga Barnabé e Saulo e não Saulo e Barnabé? Me parece que, no início, Barnabé estava mais à frente da obra que Paulo, vocês não acham?).

Considerei seriamente diante do Senhor se estou sendo fiel ao Senhor ou se estou apenas “dissimulando”. Que o senhor nos dê mais da sua graça para que possamos ser fiéis à visão que recebemos, tal como Paulo o foi. Não quero que um dia o Senhor diga: “o ‘próprio Lertevan’ não foi fiel à visão que eu lhe dei”. Que o Senhor nos dê luz e que lhe sejamos fiéis.
Em Cristo,

1 As aspas são rigorosamente propositais, pois na igreja não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos (Cl 3:11)


atte
Pr.Dr.Wagner TeruelPhd.Db.Dee.Thb.Lic

Um comentário:

gmpsarah@gmail.com disse...

Muito bom! Se até ele foi influênciado, imagina a massa com pouco conhecimento!?